Paulo Vinícius Macedo, que trabalhou com o goleiro na URT, antes
do acordo com a Chapecoense, destaca que teve terça-feira difícil

Vinícius Dias

A tragédia com o voo da Chapecoense, na Colômbia, transformou a terça-feira em um dos dias mais difíceis da vida de Paulo Vinícius Macedo. O carioca, preparador de goleiros há 17 anos, trabalhou de dezembro a abril passados com Jakson Follmann - um dos seis sobreviventes - na URT, de Patos de Minas, onde o goleiro se destacou antes de assinar com o clube catarinense até dezembro de 2017.


Sem conseguir contato com os familiares do goleiro, Paulo Vinícius teve de acompanhar via imprensa as atualizações sobre o estado de saúde daquele que classifica como "melhor profissional" com que trabalhou. Triste com a notícia da amputação da perna direita de Follmann, ele se manifestou em vídeo enviado ao Blog Toque Di Letra nesta quarta-feira.


"Foi um grande privilégio trabalhar com você, neste ano, na URT. Fizemos uma campanha incrível, chegando às semifinais do Campeonato Mineiro. E você foi um dos responsáveis por chegarmos tão longe", diz. "O primeiro a chegar em campo, último a sair e capitão. Uma figura relevante, que, em breve, estaria na seleção brasileira", completa o preparador de goleiros, já com a voz embargada.

Nota de ex-clube de Follmann

Após a confirmação da tragédia, a URT se manifestou nessa terça-feira por meio de nota assinada pela professora Suelen D'arc, orientadora da equipe da assessoria de comunicação do clube.


Capas de jornais de diversos países rememoram heroica trajetória
que terminou em acidente a apenas dois dias do capítulo principal

Vinícius Dias

Na véspera do grande momento, a final da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional, da Colômbia, a Chapecoense teve sua história dilacerada nessa terça-feira. A caminho de Medellín, o avião que levava a delegação caiu, deixando mais de 70 mortos. De atletas a dirigentes, passando por jornalistas, a dor repercutiu em todo o mundo.


Na capa do Lance!, uma lágrima cai da camisa que tantas alegrias deu ao torcedor alviverde nos últimos meses.

(Créditos: Divulgação/Lance!)

Uma rosa sobre o escudo da Chapecoense. Em meio à dor provocada pelo acidente, faltaram palavras ao SportYou, da Espanha.

(Créditos: Divulgação/SportYou)

Na Argentina, o Olé traz ilustração do cartunista Dalcio Machado e destaca trajetória da Championcoense.

(Créditos: Divulgação/Olé)

Um pequeno torcedor cabisbaixo nas arquibancadas da Arena Condá, palco das glórias do clube: a capa do A Bola, de Portugal.

(Créditos: Divulgação/A Bola)

Com o símbolo da Chapecoense na capa, o Goal News, da Grécia, estampa um avião verde nos braços do Cristo Redentor.

(Créditos: Divulgação/Goal News)

Também em solo espanhol, o Marca presta uma homenagem póstuma aos integrantes da delegação: campeões.

(Créditos: Divulgação/Marca)

Chapecoense: a esperança resistirá!

Vinícius Dias

Abro os olhos e, em seguida, visualizo duas mensagens de leitores deste Blog. A primeira delas, enviada por volta das 3h30, cita o pouso forçado. A segunda, mais atualizada, fala em desastre. Tentei, em vão, crer que o fim do sonho fosse somente um pesadelo. 

Sim, sonho! Não nasci em Chapecó, infelizmente jamais estive na Arena Condá que pulsa além dos limites de uma cidade de interior e, na infância, não vesti aquela camisa. Mas, há algumas semanas, isso se tornou detalhe. Muito além do clichê, a Chapecoense era o Brasil. O país em que, hoje, o futebol não tem cor. O país que é Chapecoense.

Duas vitórias, quatro empates, duas derrotas. Sete gols marcados, quatro sofridos. A duas partidas de um título sul-americano e de disputar a Copa Libertadores. Prestes a viver, jogar os 180 minutos finais de um conto em que guerreiros estavam no lugar que a literatura reserva a fadas. Apenas sete anos depois de conquistar a Série D.

Chapecoense: tragédia na véspera da final
(Créditos: Chapecoense/Flickr/Divulgação)

Rascunhei as primeiras palavras antes mesmo do café da manhã. Mas, na mente habituada a leads, sobraram quês, boa parte por susto, e faltaram porquês. Sobraram lágrimas e emoção - por poucos que conheci e vários, inclusive jornalistas, que aprendi a admirar -, faltou razão.

Que tal uma imunidade - neste caso, explícita e justa - a um clube que terá de se reconstruir e, sem a ameaça de rebaixamento, ganharia tempo? Que tal a divisão do título da Copa Sul-Americana? Sim, faltarão várias peças-chave na foto. Mas restarão boas recordações, inclusive a de que sobrou mérito nessa caminhada.

A Chapecoense, verde como a esperança hoje apunhalada, resistirá!


Formado na base da Raposa, zagueiro foi indicado ao alvirrubro
por Leston Júnior, técnico que o comandou na Série C deste ano

Vinícius Dias*

Quarto maior campeão, com cinco conquistas, o Villa Nova vai apresentar nesta quinta-feira, dia 1º de dezembro, o elenco para a próxima edição do Campeonato Mineiro. Conforme o Blog Toque Di Letra apurou, uma das novidades deve ser o zagueiro Gladstone. O ex-cruzeirense foi indicado ao Leão do Bonfim pelo técnico Leston Júnior, com quem trabalhou no Mogi Mirim na Série C desta temporada.

Em 2012, Gladstone defendeu o ABC
(Créditos: abcfc.com.br/Divulgação)

Formado nas categorias de base do Cruzeiro, Gladstone ganhou destaque logo aos 18 anos por fazer a estreia como profissional diante do Flamengo, na final da Copa do Brasil de 2003. Na sequência, o zagueiro passou por clubes como Juventus e Hellas Verona, da Itália; Sporting, de Portugal; e Palmeiras. Atualmente, está com 31 anos.

Mais reforços para o elenco

Outras duas prováveis caras novas são o lateral-esquerdo Bruno Ré, que também trabalhou com Leston Júnior no Mogi Mirim, e o volante Fernando China, ex-América. O primeiro reforço confirmado oficialmente foi Fernando Henrique, goleiro ex-Fluminense.

*Atualizada às 19h50

O valor dos estaduais após seis meses

Vinícius Dias

Qual é a semelhança entre América e Santa Cruz, rebaixados à Série B; Vasco, que garantiu a volta à elite apenas na rodada final, em terceiro lugar; e Vitória e Internacional, os protagonistas da luta contra a degola na última rodada? Os cinco foram campeões de seus estados, mas, a essa altura da temporada, têm poucos motivos para comemorar. Falando de alguns dos estaduais mais tradicionais do Brasil, a questão que surge é: no formato atual, quanto valem esses torneios?


Em campo, a resposta remete à análise deste Blog após o empate entre Cruzeiro e América, em fevereiro, em confronto válido pela 5ª rodada do Campeonato Mineiro. Duvidar das potenciais virtudes e crer nas falhas - e trabalhar para corrigi-las - apresentadas diante de times mais frágeis é o caminho. Algo que o Coelho, rebaixado na 35ª rodada, contrariou. E que o Palmeiras, fora da final do Paulista, colocou em prática para conquistar o título nacional depois de 22 anos.

América x Santa Cruz: do título à queda
(Créditos: Carlos Cruz/América FC/Divulgação)

Em Santa Catarina, campeão e vice disputarão 20 jogos no estadual, mais que um turno de Série A. No Rio, serão 17 partidas, apenas uma a menos que a Libertadores - desde a fase prévia. Em Minas, serão 15, mais que a Copa do Brasil. No formato atual dos torneios, há muitas datas para os grandes clubes e poucas para poucos pequenos, a maior parte deles sem calendário no segundo semestre. E a equação tem, em linhas gerais, mais receitas para federações que vários filiados.

Longos demais para os grandes, curtos para poucos pequenos.
Um semestre depois, nem os campeões festejam os estaduais.

O papel do Cruzeiro no calvário do Inter

Douglas Zimmer*

Salve, China Azul!

O Cruzeiro falhou miseravelmente em todas as chances que teve de ser protagonista nesta temporada. Não conseguiu avançar à segunda fase da Primeira Liga; não conseguiu passar das semifinais de estadual e Copa do Brasil; e penou até agora no Campeonato Brasileiro, não aparecendo na primeira metade da tabela em nenhuma rodada. Mas quis o destino - ou chamem como melhor lhes parecer - que, quase no apagar das luzes do teatro, a Raposa possa, uma vez que não se saiu bem como personagem principal, assumir o papel de coadjuvante de uma tragédia.


Que fique claro, de antemão, que sou totalmente contra o comodismo de achar que o fato de não ser rebaixado deva ser festejado e, também, que não é do meu feitio comemorar a derrocada dos outros. O Cruzeiro é bem maior do que isso e nós, torcedores, devemos pensar assim. Porém, o ano está no fim e o que nos resta é fechar essa participação da melhor forma possível, sabendo que precisamos melhorar muito, mas muito mesmo, se pretendemos almejar posições de destaque, e não somente alguns poucos momentos de destaque.

Rafael Sóbis: de ídolo a algoz colorado?
(Créditos: Pedro Vilela/Light Press/Cruzeiro)

Nesta cena, o Cruzeiro pode assumir a condição de algoz do Internacional, caso o derrote neste domingo, no Beira-Rio. Essa situação, é claro, reflete outras tantas que levaram o clube gaúcho à nada agradável posição. No entanto, será a última chance de o time buscar diante de sua torcida um fôlego que parece não existir. Caso o pior - para eles - aconteça, a camisa azul será lembrada como veste do coveiro que jogou a última pá de cal na cova em que será sepultado um dos seus estandartes: a insígnia de ser um dos poucos jamais rebaixados.

Jogar pela própria história

Sou da modesta e, talvez polêmica, opinião de que chegará o dia em que todos os clubes, sem exceção, terão o orgulho ferido com a dor da queda. Espero estar errado. Se antes de começar o Campeonato Brasileiro há 12 candidatos ao título, ao longo da disputa é formada quase outra dúzia de ameaçados. Só neste ano, além do Inter, São Paulo e Cruzeiro correram riscos. Ou seja, dos cinco jamais rebaixados - Flamengo e Santos fecham a lista -, três conviveram ou convivem com a ameaça.

No 1º turno, vitória do Cruzeiro: 4 a 2
(Créditos: Pedro Vilela/Light Press/Cruzeiro)

Então, sem que haja algo pessoal - apesar de 1975 seguir entalado na garganta dos cruzeirenses - contra o colorado ou qualquer outro clube, espero que, estando ao alcance, o Cruzeiro faça seu melhor e não meça esforços para minguar esse rol de clubes que continuam sem conhecer a divisão inferior e reafirmar a própria história.

Já é hora de planejar 2017

Mas vale lembrar: ficar ano após ano disputando o torneio apenas com a preocupação de não ser rebaixado é inadmissível. Sei que não passa pela cabeça do amigo leitor se acostumar com essa situação e que a diretoria também não se satisfaz com esse prêmio de consolação. Portanto, foco em 2017, mas não sem antes terminar da melhor maneira possível esse nosso confuso 2016.

*Gaúcho, apaixonado pelo Cruzeiro desde junho de 1986.
@pqnofx, dono da camisa 10 da seção Fala, Cruzeirense!


Belorizontino comemorará 100 anos no dia 08 de dezembro e, em
vídeo com Alencar da Silveira, destacou receita para longevidade

Vinícius Dias

Perto de completar 100 anos, o belorizontino Joel Gonçalves viveu uma sexta-feira especial. Considerado o morador de rua mais velho da capital mineira, o torcedor americano foi presenteado pelo presidente Alencar da Silveira Júnior com uma camisa do clube. Joel também foi convidado para assistir ao jogo entre América e Sport, neste sábado, no Independência. O duelo marca a despedida como mandante na temporada.


Deputado estadual pelo PDT, o dirigente entregou o presente a Joel nas proximidades da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. "Ele é fanático, lembra do decacampeonato", revela ao Blog Toque Di Letra. "O convidei para ir ao camarote. Ele disse: 'tem de ter um tropeiro lá para eu comer'. Mandei comprar uma calça para ele", completa.

Aniversário em dezembro

A caráter, o torcedor deu detalhes de como chegar aos 100 anos exibindo tamanha vitalidade. "Tomar um banho frio, acreditar em Deus e também acreditar em si próprio. Desse jeito, as coisas vão para frente", disse, logo depois de beijar o escudo do América, em vídeo publicado por Alencar. O centenário será comemorado no dia 08 de dezembro.


Engenheiro de telecomunicações, de 40 anos, se surpreendeu com a
rivalidade no país: 'o futebol aqui é praticamente uma religião', diz

Vinícius Dias

"A família é grande e tem torcedores dos três principais clubes de Belo Horizonte. Cada um estava tentando me puxar para o seu lado. Eu não estava entendendo nada, mas os cruzeirenses me pareciam mais felizes", recorda Vitalii Afanasiev. Em meio a uma disputa entre os familiares da esposa, à época namorada, o clube celeste ganhou o coração do ucraniano. "Com o tempo, me convenço de que fiz a escolha certa. Me identifico muito com a filosofia: queremos ver o time jogar bola, ganhar jogando feio não é suficiente", comenta ao Blog Toque Di Letra.


Engenheiro de telecomunicações, o terceiro personagem da série especial 'Nos caminhos da paixão' é natural da província de Donetsk, no Leste da Ucrânia. Aficionado por futebol desde a infância, quando jogava na rua, se surpreendeu ao chegar ao Brasil. "O jeito de torcer é totalmente diferente. Aqui é muito mais do que paixão, é praticamente uma religião. Quase não temos rivalidade lá. Quando o Shakhtar conquistou a Copa da Uefa (2009), todo o país ficou orgulhoso, algo impensável no Brasil", diz.

Vitalii ao lado da esposa e de Pyatov
(Créditos: Arquivo Pessoal/Vitalii Afanisiev)

Curiosamente, no último ano, o Shakhtar fez parte de um dos capítulos da paixão de Vitalii pela Raposa. "Qual a probabilidade de os meus dois times, de continentes diferentes, jogarem na cidade em que eu morava e nada tinha a ver com os dois?", pontua o torcedor, de 31 anos, que residia em Brasília antes de se mudar para a capital mineira. "Estava há muito tempo sem ver o Shakhtar e com saudade de ver o bicampeão Cruzeiro. Bati um papo com o goleiro Pyatov e até ganhei uma camisa".

Namorada de coração dividido

Ele chegou ao Brasil no fim de 2008. "Antes, só ouvia a minha namorada falar do Cruzeiro. Fiquei sabendo que o coração dela não era só meu e já havia um grande clube morando nele. Não gostei disso na época", brinca. Passados oito anos, garante já ter convertido os familiares que vivem na Europa. "No início, acharam a ideia um pouco exótica. Agora, também são cruzeirenses. Meu sobrinho Illya, de oito anos, é o torcedor mais fanático. Vou trazê-lo ao Mineirão um dia", promete.

Illya, de oito anos, torce pelo Cruzeiro
(Créditos: Arquivo Pessoal/Vitalii Afanasiev)

Acostumado à realidade da terra natal, com rivalidades menos intensas, Vitalii conheceu o Mineirão em dia de jogo do arquirrival. "Curiosamente, a primeira partida à qual assisti foi Atlético x Botafogo. Estava de férias no Brasil e queria ir ao estádio. Não haveria nenhum jogo do Cruzeiro naqueles dias. Meio sem querer, minha namorada me levou na torcida do Botafogo", revela. "O Atlético acabou eliminado (Copa Sul-Americana de 2008, ao que tudo indica). Foi lindo", afirma, adaptado ao dérbi.

Feijão tropeiro, bife e ovo frito

Meses depois, já morando no Brasil, o ucraniano viveu o lado oposto: viu o time celeste, também no Gigante da Pampulha, ficar com o vice da Copa Libertadores. Ainda assim, ele leva na esportiva. "Tive a sorte de assistir à final no Mineirão antigo, com direito a churrasco no estacionamento, feijão tropeiro com bife e ovo frito por cima", elenca. "É uma sensação única, a energia é incrível. Por pouco não levamos a taça, mas futebol é isso. O melhor nem sempre ganha".

Vitalii nasceu na cidade de Ienakievo
(Créditos: Arquivo Pessoal/Vitalii Afanasiev)

Exigente, Vitalii afirma ainda não ter ídolos relacionados ao Cruzeiro. "Não basta jogar bem, gostar do clube. É preciso algo mais. A boa notícia é que vejo alguns candidatos". Descontente com o desempenho, define este ano como sabático. "O grande problema foi a quantidade de apostas feitas nos últimos dois anos", explica. Apesar disso, crê que a situação melhorará na próxima temporada: desde que cheguem reforços pontuais ao clube que, agora, também mora no coração dele.


Professora de idiomas, de 40 anos, deixou o país natal e encontrou
em BH a grande paixão no futebol: 'minha família fica curiosa', diz

Vinícius Dias

História de amor à primeira vista, tendo o Coelhão como cupido. Foi assim que a guatemalteca Alicia Yoconda Gomez Sanchez iniciou seu caso com o América. "Quando o vi sorridente, com os dois dentinhos de fora, vindo em minha direção e me dando um abraço apertado, simplesmente amei", diz, citando a mascote alviverde como a mais linda do mundo. "Minha paixão surgiu pela simplicidade do clube, a proximidade dos torcedores com os jogadores no antigo estádio Independência, que deixou muita saudade", relembra ao Blog Toque Di Letra.


Microempresária e professora de idiomas, a segunda personagem da série especial 'Nos caminhos da paixão' chegou ao Brasil no começo de 2000. "Infelizmente, eu não conhecia nem tinha ouvido falar do glorioso América antes", revela. 16 anos depois, o clube é assunto até nas conversas com os familiares. "De um jeito ou de outro, eu acabaria torcendo por uma equipe local, então eles aceitaram tranquilamente a minha nova paixão e ficaram muito curiosos para saber mais sobre o América".

Alicia com os familiares na Guatemala
(Créditos: Arquivo Pessoal/Alicia Yoconda)

Nascida em Escuintla, na Região Centro-Sul da Guatemala - apesar de não ser considerado uma potência nos gramados, o país tem o futebol como esporte mais popular -, Alicia Yoconda sempre gostou de acompanhar a modalidade. Antes de se mudar para o Brasil, torcia pelo Comunicaciones Fútbol Club, maior campeão nacional. "Los Cremas (apelido do clube) têm como mascote o fantasminha camarada, sorridente tal como o Coelhão", brinca a torcedora americana, de 40 anos.

Assiduidade nas arquibancadas

Sócio-torcedora, ela tem acesso garantido a todas as partidas nas quais o clube é mandante. Uma prova da assiduidade foi a ida a Londrina, no mês passado, quando assistiu à derrota para o líder Palmeiras, no estádio do Café, por 2 a 0. "Faço parte da Torcida Feminina Batom Verde", emenda, orgulhosa do fato de o hino americano mencionar a presença feminina nos estádios. "Nossa atividade principal é mostrar a paixão pelo glorioso, dando um toque feminino e delicado à torcida", explica.

Torcedora ao lado de mascote do clube
(Créditos: Arquivo Pessoal/Alicia Yoconda)

Outra bandeira levantada, de acordo com a guatemalteca, é o apoio ao futebol feminino. Na última semana, por sinal, o Coelho conquistou pela primeira vez o Mineiro feminino. A trajetória invicta, com direito a 35 gols marcados e apenas quatro sofridos em oito partidas, deixou Alicia muito contente. "As coelhinhas brilharam. Mesmo com as dificuldades que elas enfrentam em questão de patrocínios, entre outras, jogaram um futebol bonito e admirável", comenta.

Perda de peso e alegria na final

Mas nada supera a emoção vivida no início de maio. Nervosismo, dias de alimentação e sono insuficientes. "Emagreci quatro quilos". O título ante o Atlético, quebrando jejum de 15 anos no estadual, foi um presente duplo. "Foi no Dia das Mães, e tive o privilégio de entrar em campo ao lado dos jogadores", conta. "Quando o Atlético fez o gol, me lembro da sensação de garganta seca. Estourou no meu ouvido o grito da torcida", pontua. O gol marcado por Danilo, aos 38' da etapa final, pôs fim à agonia e deu início à comemoração americana.

Guatemalteca se emocionou com título
(Créditos: Arquivo Pessoal/Alicia Yoconda)

Apontando os campeões João Ricardo e Tony como ídolos, Alicia ainda faz questão de destacar Givanildo Oliveira. "Nunca tinha gostado tanto de um técnico como gostei dele. Givamito foi parte da família América para mim", explica. A dois jogos do fim, a temporada não deixará apenas recordações positivas, no entanto. "Subir para a Série A não tem preço, mas tem seu valor. Não conseguimos dar conta desse valor. Temos de aprender a criar raízes", diz a mais alviverde das guatemaltecas.


Cazaque, de 27 anos, se apaixonou pelo Atlético depois de visitar
o Brasil entre agosto e setembro: 'Grito de Galo me impressionou'

Vinícius Dias

Já será madrugada de quinta-feira na Europa quando um asiático usará a internet para assistir a um jogo entre times do Brasil. Essa volta ao mundo marca o capítulo inicial de 'Nos caminhos da paixão', série especial que o Blog Toque Di Letra abre nesta quarta-feira, e também a maneira como Igor Fischer, que nasceu em Temirtau, no Cazaquistão, e há 18 anos mora em Hamburgo, na Alemanha, torcerá pelo Atlético nas duas partidas da decisão da Copa do Brasil diante do Grêmio. Um caso de amor tão recente quanto recheado de curiosidades.


A história começou em agosto último, quando ele desembarcou em solo brasileiro. "Fiquei por dois meses na casa de uma família mineira que torce fortemente pelo Atlético", diz o programador, que antes havia se tornado amigo de um dos integrantes da família pela internet. "Cada um tem uma camisa. O pai me mostrou a dele, do Ronaldinho Gaúcho, com orgulho. E, claro, me impressionou que cada gol do time foi acompanhado do grito de Galo na casa", acrescenta.

Torcedor fez visita à sede do Atlético
(Créditos: Arquivo Pessoal/Igor Fischer)

Natural da província de Qarağandı, na parte asiática do Cazaquistão, Igor Fischer teve infância quase alheia ao futebol. "Como em todos os países vizinhos da Rússia, o hóquei no gelo dominava a sociedade". Os primeiros contatos ocorreram após a família se mudar para a Alemanha. "Por aqui, todos torcem por um clube. Eu, por exemplo, além de jogar na escola com meus amigos, torcia pelo Hamburgo", rememora o atleticano, que tem 27 anos e chegou ao país europeu aos nove.

Surpresa com 'título do Gelo'

Por coincidência, Hamburgo foi uma das cidades em que o Atlético atuou - derrotou a equipe da casa, por 4 a 0, em 04 de novembro de 1950 - na caminhada rumo ao 'título do Gelo', eternizado no hino. Durante a visita à capital mineira, o cazaque se surpreendeu ao saber da conquista. "Conheci essa história quando olhei a vitrine (da sede) em BH. Achei incrível que o Galo jogou e venceu times tradicionais da Alemanha. Não se conta aqui, talvez porque foi um tempo difícil após a II Guerra", afirma.

Igor no Cazaquistão, país de origem
(Créditos: Arquivo Pessoal/Igor Fischer)

Na vinda a Belo Horizonte, Igor também teve a chance de conhecer o Mineirão - e a mineira Anna Clara, de quem se tornou namorado. "Fui ao jogo contra a Ponte Preta (pelas oitavas de final da Copa do Brasil). Lembro-me dos fãs torcendo com todo o coração e do lindo gol do Robinho. A (torcida) Galoucura me impressionou", comenta. "E eu nunca havia comido algo tão gostoso como tropeiro e churrasco em frente ao estádio, no encontro dos torcedores. Foi uma noite linda", completa.

Fuso-horário e ausência na TV

Para alimentar a paixão pelo Atlético, porém, é preciso superar barreiras. Igor convive em boa parte do ano com um relógio cinco horas à frente do brasileiro - com o fim do horário de verão na Alemanha e início no Brasil, atualmente são três horas. Por isso, não há transmissões na TV. A solução apareceu por acaso, no celular. "Eu não sei como ele sabe que quero ter informações sobre o Atlético, mas sempre posso ver o resultado ao vivo", destaca. "Acredito que a empresa analisou meus dados móveis para saber minhas preferências".

Ao lado de Anna Clara, no Mineirão
(Créditos: Arquivo Pessoal/Igor Fischer)

Entre alemães, a relação com o clube desperta curiosidade. "Meus amigos acham muito interessante", diz. Perguntado sobre ídolos, o cazaque cita as passagens de Ronaldinho, seu ídolo de juventude, e Robinho pelo Atlético. "Também sigo a carreira do Douglas Santos no Hamburgo", conta. De olho no título e preparado para assistir à final desta quarta, ou melhor, quinta-feira, ele não deixa de lado o Campeonato Brasileiro. "Quarto lugar é bom, apesar de tudo, só espero que ultrapassemos o Flamengo".


A exatos dois meses de data prevista para abertura, torneio ainda
tem de vencer obstáculos internos; mudança de data é alternativa

Vinícius Dias

Em clima de incerteza, dirigentes dos clubes da Primeira Liga se reúnem nesta terça-feira, em Belo Horizonte. A exatos dois meses da data prevista para o início do torneio, há obstáculos a serem superados internamente. O rateio das cotas de TV - o modelo fixado na última reunião é visto com ressalvas por Coritiba e Atlético/PR, em especial - é um deles. O principal, contudo, é o calendário, detalhe que pode resultar na não participação do Atlético/MG, um dos fundadores.


Pelo formato traçado inicialmente, 16 clubes seriam divididos em quatro grupos de quatro - na primeira fase, o cruzamento seria com equipes de outra chave -, com os líderes e vice-líderes avançando. Quartas de final, semifinais e final seriam disputadas em jogo único, com mando definido a partir da campanha na primeira fase. O torneio teria início no dia 22 de janeiro, se estendendo até o fim de março.

Em 2017, Primeira Liga terá 16 clubes
(Créditos: Mailson Santana/Fluminense F.C.)

Entretanto, diante das alterações no calendário da Conmebol e dos ajustes divulgados pela CBF na sequência, o cenário é incerto. Diferentemente do que se cogitou no início deste ano, nenhum estadual do eixo Sul-Minas-Rio teve redução substancial - o arbitral do Gaúcho ocorre nesta segunda; dos definidos, o Carioca terá uma data a menos do que em 2016. Além disso, cinco filiados ainda almejam disputar a Libertadores, enquanto Flamengo e Atlético/MG já estão classificados.

Disputa a partir de agosto

Com o primeiro semestre inchado - incluindo 15, e não mais oito datas da Copa do Brasil -, é quase consenso que a disposição das sete datas da Liga terá de ser revista. Uma alternativa seria a disputa a partir de agosto. Conforme o Blog Toque Di Letra apurou, dirigentes de pelo menos três clubes sugeriram a possibilidade ao vice-presidente Francisco Battistotti. Neste caso, poderiam ser aproveitados os períodos de pausa no calendário para Eliminatórias em setembro e outubro.

Reunião entre dirigentes em Brasília
(Créditos: Primeira Liga/Divulgação)

A avaliação é de que, assim, seria menor a chance de escalação de times mistos ou reservas, tornando a competição mais atraente. Essa sugestão, porém, deve encontrar resistência tanto da TV, que encaminhou a compra dos direitos de transmissão tendo como base o cronograma inicial, quanto dos clubes que, reforçando a oposição aos estaduais, adotam o discurso de "principal torneio do primeiro semestre".

Chance de saída alvinegra

Embora tenha sido mencionada pelo presidente Daniel Nepomuceno ao Uol Esporte, a saída do Atlético/MG não foi comunicada oficialmente à Primeira Liga. Nos bastidores, inclusive, interlocutores apostam na permanência do clube. Caso isso não aconteça e o torneio seja disputado em 2017, há dois caminhos: entrada do Tupi, se a opção for pela manutenção das três vagas mineiras, ou definição do 16º participante pelo ranking da CBF, cenário em que o Ceará surge como favorito.