Alerta ligado na Toca da Raposa

Douglas Zimmer*

O campeonato nacional não começou bem para o Cruzeiro. Depois de um papel discreto na Primeira Liga e de uma eliminação logo nas semifinais do Mineiro, o clube celeste começa penando diante de adversários, digamos, modestos. Nas três primeiras rodadas, somente um ponto conquistado e muitas falhas individuais.


Esse cenário até que não é tão surpreendente para um clube que iniciou a competição sem treinador e com a relação com os torcedores abalada. As cobranças vindas das arquibancadas, que foram quase sempre ignoradas, se tornam mais constantes e agudas. A chegada de Paulo Bento, embora tardia, começa a dar os primeiros resultados visíveis, apesar dos placares ainda horrorosos.

Bento mudou estilo de jogo da Raposa
(Créditos: Anderson Stevens/Light Press)

O treinador português mostrou, até aqui, muita calma e seriedade. Deve saber onde está se metendo e mudou sensivelmente a forma de jogar da equipe azul celeste. Maior posse de bola, variações de jogadas e aumento significativo no índice de finalizações, por exemplo, são as diferenças mais claras a meu ver. A primeira vitória, contudo, ainda não veio e o receio de que seja outra temporada de preocupação constante já começa a causar calafrios no torcedor.

Um ponto em dois jogos

Contra o Figueirense, em casa, vimos um setor defensivo completamente desajustado e dominado por Rafael Moura. O empate acabou sendo bom resultado, visto que o centroavante ainda perdeu mais uma ou duas boas chances de assegurar o triunfo da equipe visitante. Várias chances de gol desperdiçadas e falhas bizarras de marcação culminaram na perda de dois pontos em pleno Mineirão.

Cruzeiro foi derrotado pelo Santa Cruz
(Créditos: Anderson Stevens/Light Press)

Já em Recife, diante de um empolgado Santa Cruz, a Raposa dominou as ações da partida até o intervalo, quando já perdia por 1 a 0, após pênalti infantilmente cometido por Fábio e bem cobrado por Grafite. O empate foi arrancado após cobrança de falta perfeita de Arrascaeta e parecia estopim para a virada celeste. Parecia. Após nova falha da defesa, em especial de Bruno Rodrigo, o artilheiro Grafite voltou a marcar. A partir daí, vimos um show de horrores que só terminou no apito final e com o placar de 4 a 1 para os atuais líderes do certame.

Preço por decisão tardia

O preço que se paga por esperar até os últimos momentos para definir a comissão técnica é alto, e o Cruzeiro já pagou as três primeiras parcelas. Resta agora saber se seguimos em débito ou se o pior já passou. Certo mesmo é que a equipe precisa reagir e começar o quanto antes a somar pontos. É cedo demais para decretar qualquer destino. Porém, o sinal de alerta já está ligado.

*Gaúcho, apaixonado pelo Cruzeiro desde junho de 1986.
@pqnofx, dono da camisa 10 da seção Fala, Cruzeirense!


Defensor atua no Independiente del Valle, semifinalista da
Libertadores; clube vendeu Cazares ao Atlético em janeiro

Vinícius Dias*

Em busca de reforços para a sequência da temporada, o Atlético trata a contratação de um zagueiro como uma das prioridades momentâneas. Na mesma semana em que o técnico Marcelo Oliveira fez sua estreia oficial, a cúpula atleticana iniciou os contatos com clubes e empresários. Uma das opções avaliadas para o setor é o equatoriano Arturo Mina, convocado na semana passada por Gustavo Quinteros para a disputa da Copa América Centenário, nos Estados Unidos.


Titular do Independiente del Valle, o zagueiro, de 25 anos, encarou o time mineiro duas vezes na fase de grupos da Libertadores e, na última terça-feira, cobrou o pênalti que selou a classificação à fase semifinal. Antes do Atlético, porém, Flamengo e Colo-Colo, do Chile, já haviam feito consultas ao staff do atleta, encabeçado pelo equatoriano Diego Herrera Larrea. A princípio, o rubro-negro tem a preferência.

Arturo Mina em ação contra o Atlético
(Créditos: Bruno Cantini/Flickr/Atlético-MG)

As negociações entre Mina e o clube carioca foram abertas no início desta semana. Ainda assim, o desfecho com o Independiente del Valle continua distante. O Flamengo planeja ter o zagueiro no elenco logo após a Copa América e visa convencer os equatorianos. Inicialmente, houve recusa em relação à possibilidade de liberação antes do fim da participação na Copa Libertadores, que se estenderá pelo menos até 14 de julho, dia da volta contra o Boca Juniors.

Detalhes da negociação

Com boa relação com a equipe de Sangolquí, fruto da negociação recente pelo meia-atacante Cazares, o Atlético fez uma consulta na quarta-feira e, agora, monitora a situação. Conforme o Blog apurou, uma negociação de compra de parte dos direitos de Mina dificilmente ocorreria por menos de US$ 2 milhões, cerca de R$ 7,2 milhões na cotação atual. O equatoriano tem vínculo com o del Valle até o fim de 2018.

*Com colaboração de Luciano Silveira

Vamos, Galo, ganhar o Brasileiro!

Alisson Millo*

A sabedoria popular afirma que o mundo dá voltas. Na volta ao Atlético, Marcelo Oliveira pode dizer que é a prova viva disso. Dispensado em 2008 por Alexandre Kalil sob a alegação de que não era um técnico com o perfil do presidente, o ex-camisa 10, atleticano de coração, rodou, provou sua capacidade ganhando uma Copa do Brasil, indo à final mais três vezes e, ironia do destino, sendo bicampeão brasileiro pelo Cruzeiro.


Mas nem só de títulos vive a reviravolta na carreira de Marcelo Oliveira. Há oito anos, ele tinha à disposição nomes gloriosos como o goleiro Edson, o lateral-direito César Prates, o volante Marcio Araujo. O elenco oferecido ao treinador atleticano hoje tem qualidade muito superior à daquele time. Se naquela época assegurar a permanência na elite nacional era sinônimo de alegria, hoje ficar fora da Libertadores pode ser considerado um indício de trabalho fracassado.

Marcelo Oliveira comanda treino no CT
(Créditos: Bruno Cantini/Flickr/Atlético-MG)

A qualidade do grupo, inclusive, foi decisiva para a troca de técnico. Diego Aguirre disputou três campeonatos no primeiro semestre, decepcionando em todos. Saiu na primeira fase da Primeira Liga, perdeu o Mineiro para o América e, na Copa Libertadores, caiu nas quartas de final diante do São Paulo. Agora restam o Brasileiro e a Copa do Brasil, torneios que Marcelo Oliveira conquistou nos últimos três anos.

Momento de superação

O teste começa neste mês, com a perda de três convocados para a Copa América. Douglas Santos, no Brasil, Cazares e Erazo, no Equador, ficarão fora por um bom tempo, mas a diretoria já busca nomes para suprir as ausências. Além desses, Leonardo Silva, Pratto, Luan, Mansur e Robinho são desfalques por lesão. Mas o histórico prova que Marcelo Oliveira sabe superar cenários adversos. Famoso pelo trabalho nas divisões de base, o treinador não tem receio e dá toda a confiança para jovens jogadores na hora de lançá-los no profissional.

Decisivo em Curitiba, Cazares é desfalque
(Créditos: Bruno Cantini/Flickr/Atlético-MG)

Como todo torcedor tem um quê de técnico, aqui vai uma sugestão: é a hora de dar sequência ao zagueiro Gabriel e ao lateral-esquerdo Leonan, porque ninguém merece Tiago e improvisações semelhantes. Boa sorte, Marcelo. De 2008 para cá, o Atlético mudou de patamar e você também. Neste reencontro, a massa estará contigo. Confiança total no trabalho e, como diz a música, vamos, Galo, ganhar o Brasileiro!

*Jornalista. Corneteiro confesso e atleticano desde 1994.
Goleiro titular e atual capitão da seção Fala, Atleticano!


Mídia do país de origem do técnico celeste tem acompanhado
de perto a Raposa, com direito a matérias de páginas inteiras

Vinícius Dias

Os primeiros passos no Brasil do português Paulo Bento, primeiro técnico europeu a dirigir o Cruzeiro, têm alterado a rotina da imprensa lusitana e valido destaque para o clube estrelado no noticiário. O empate por 2 a 2 ante o Figueirense no duelo que marcou a estreia de Bento, por exemplo, foi bastante repercutido nas páginas dos principais jornais esportivos do país de origem do novo comandante.


"Com o Paulo Bento no Cruzeiro, os jogos do clube sempre vão virar lide (primeiro parágrafo) das reportagens sobre o Campeonato Brasileiro, e o acompanhamento, que já é grande, será muito maior", afirma o brasileiro Mamede Filho, colaborador do Record. Na visão do jornalista, o destaque reflete a política dos veículos do país. "A mídia daqui acompanha muito de perto os portugueses que estão no exterior", completa.

Entrevista exclusiva de Bento ao Record
(Créditos: Arquivo Pessoal/David Fernandes)

Avaliação compartilhada por David Fernandes, responsável pelo Blog Fora de Jogo. "O Cruzeiro é, hoje, o único clube brasileiro a merecer destaque. Em geral, as colunas de Campeonato Brasileiro nos jornais são pequenas, classificação e pouco mais. O clube tem ocupado páginas inteiras", afirma. "O Cruzeiro, antes, ganhava destaque somente quando era campeão ou contratava um jogador mais conhecido", compara.

Cobertura pré e pós-jogo

Detalhados, os registros incluem desde entrevista exclusiva publicada na edição de 16 de maio do Record - dia da apresentação de Paulo Bento na Toca da Raposa II - a matérias especiais sobre o começo de trabalho. As opções táticas do treinador e as diferenças de sotaque entre brasileiros e lusos foram destaque no diário A Bola, por exemplo. Pós-estreia, O Jogo exaltou a 'mão' de Bento no 2 a 2 com o Figueirense.

A Bola repercute coletiva do técnico celeste
(Créditos: Arquivo Pessoal/David Fernandes)

Até mesmo o Diário de Notícias, um dos jornais mais antigos de Lisboa, pautou o acordo do comandante luso com o Cruzeiro. Na edição de 16 de maio, o caderno Desporto trouxe um perfil de meia página sobre o clube, destacado no título como italiano. Das conquistas recentes à definição de Tostão como maior ídolo da história celeste, a narrativa ainda ressaltou a postura exigente da torcida.

Perfil do clube mineiro no Diário de Notícias
(Créditos: Arquivo Pessoal/David Fernandes)

"Mas que clube é este a quem chamam Raposa? E que desafios esperam o treinador português?", pontua o texto. "Estas são algumas das questões para as quais Bento terá de encontrar resposta se quiser ter sucesso no Brasil", complementa logo a seguir.

Quando a exceção derrota a regra

Vinícius Dias

Da coletiva pós-eliminação na Libertadores, sublinhando a importância de "olhar para frente" quando questionado sobre o Campeonato Brasileiro, à despedida na tarde seguinte, citando pedido de demissão que teria sido feito há 20 dias, a saída de Diego Aguirre do comando do Atlético deixou várias perguntas sem respostas. Em meio a incógnitas, a equação aponta uma certeza renovada rodada a rodada: a fragilidade dos laços que unem técnicos e clubes no futebol brasileiro.


Apenas nos primeiros cinco meses de temporada, os clubes da Série A já realizaram dez trocas de técnico. Além do alvinegro mineiro, Figueirense, Fluminense, Palmeiras, Atlético/PR, Santa Cruz, Sport, Cruzeiro e a Ponte Preta - por duas vezes - se renderam à ciranda. Em um mercado em que normalmente a convicção depende de resultados e se aposta em nomes, não em projetos, a troca deixou de ser um recurso de exceção para se transformar em regra pós-reveses.

Aguirre se despede: 10ª troca na elite
(Créditos: Bruno Cantini/Flickr/Atlético-MG)

Mas, na prática, qual a eficácia da regra? Fugindo do clichê, o histórico do Campeonato Brasileiro dos pontos corridos e da regularidade rascunha o longo prazo como atalho para o sucesso. Nesses 13 anos, somente três campeões trocaram o treinador no percurso da competição. Desde 2003, nenhum clube brasileiro conquistou o nacional e a Libertadores no mesmo ano. Nove dos campeões nacionais tiveram de superar fracassos em seus estaduais rumo ao título.

A regra dos campeões

Os exemplos são diversos e bons. Muricy Ramalho levou o São Paulo ao tricampeonato entre 2006 e 2008 reunindo forças depois de três quedas consecutivas na Libertadores no Paulista. Em 2011, o Corinthians caiu na pré-Libertadores e foi vice estadual, mas manteve Tite para conquistar o nacional. No ano seguinte, o Fluminense de Abel Braga caiu em casa nas quartas de final da Libertadores e, a seguir, festejou o Brasileirão. Mesmo roteiro do Cruzeiro, em 2014, com Marcelo Oliveira.

Trocar de técnico ao sabor dos resultados é a regra nacional.
Mas o Brasileirão, quase sempre, vem coroando as exceções.


Hoje treinador, 7º maior artilheiro alvinegro vê São Paulo em
evolução, mas crê em classificação com emoção e Pratto herói

Vinícius Dias

Campeão mundial de clubes pelo São Paulo em 1993, logo aos 19 anos, Guilherme Alves se consagrou definitivamente, anos depois, com a camisa 7 do Atlético. Os 139 gols marcados ao longo de 205 jogos fazem do ex-atacante o sétimo maior artilheiro e um dos principais personagens da centenária história alvinegra. "Todos os clubes em que atuei foram muito importantes. Mas foi no Atlético onde consegui as melhores coisas como jogador", garante ao Blog Toque Di Letra, quase 13 anos depois de sua última partida pelo clube.


Embora ressalte a relação com o São Paulo, time em que teve a primeira oportunidade na elite, na era Telê, Guilherme dará nesta quarta-feira uma prova de que a paixão pelo alvinegro resiste ao tempo. Aos 42 anos, ele terá uma noite de torcedor no Independência. "Comigo, esse negócio de (ficar em) cima do muro não existe. Torcerei para o Atlético". O palpite é triunfo por 1 a 0, com classificação nos pênaltis. "Emoção até o fim. Pratto será o homem do jogo", diz, elogiando o argentino.

Guilherme durante vista ao CT alvinegro
(Créditos: Bruno Cantini/Flickr/Atlético-MG)

Para isso, no entanto, os comandados de Diego Aguirre terão de superar um adversário em evolução. "O São Paulo evoluiu taticamente, mas o que mais me chamou a atenção, e é o que mais interessa, na verdade, é que evoluiu como grupo", avalia Guilherme, que comandou o Novorizontino no Paulista deste ano e, no fim de fevereiro, duelou com o time do Morumbi. "Individualmente, alguns jogadores passaram a jogar mais. Michel Bastos, Ganso, quando jogam bem, complica", assinala.

Trajetória como treinador

O ex-centroavante, que pendurou as chuteiras em 2006, teve a primeira oportunidade como treinador em 2011, no Ipatinga. Dois anos antes, em meio ao período de transição dos gramados para a área técnica, a relação com os adversários desta quarta-feira teve novos capítulos. No primeiro semestre de 2009, Guilherme fez estágio com Muricy Ramalho no CT da Barra Funda. Na sequência, foi a vez de o técnico Vanderlei Luxemburgo recebê-lo na Cidade do Galo.

Ex-atacante fez estágio com Muricy
(Créditos: Site Oficial/www.saopaulofc.net)

"A carreira evoluiu mais rápido do que eu esperava. Fiquei cinco anos me preparando e hoje estou vendo o resultado", diz, citando a frequência em congressos e a obtenção de registro no Conselho Regional de Educação Física (CREF). Após dois acessos consecutivos com o Novorizontino, que saiu da A3, em 2014, e disputou a elite paulista neste ano, ele quer mais. "Farei a licença A da CBF, em junho. Também pretendo fazer o curso (da Uefa), em Portugal", revela, em meio às tratativas para renovação com o Tigre. Quarta-feira, no entanto, é dia de cair no Horto.


Estrela da categoria até 100 kg, Luciano Corrêa conduziu tocha
em Itabirito e, agora, se concentra na busca por vaga nos Jogos

Vinícius Dias*

Atual bicampeão pan-americano de judô na categoria até 100 kg, Luciano Corrêa foi uma das estrelas do revezamento da chama olímpica pelas ruas de Itabirito nessa sexta-feira. A três meses da competição e em busca de confirmar sua terceira participação consecutiva, o brasiliense, de 33 anos, falou ao Blog Toque Di Letra sobre o simbolismo da passagem da tocha por mais de 300 cidades brasileiras e reafirmou a expectativa positiva em relação ao judô nos Jogos Rio 2016.


"Esse é o momento de mostrar para toda a população a importância dos Jogos Olímpicos. Não só a questão do alto rendimento, mas da união do povo, do respeito, de todos esses valores que o esporte agrega, em um momento em que estamos precisando muito", afirmou, na concentração, antes de conduzir a tocha por um trecho de 200 metros entre os bairros Esperança e Capanema. "O revezamento é um momento único para todos os brasileiros. Estou muito feliz de participar", completou.

Judoca conduziu a tocha em Itabirito
(Créditos: Vinícius Dias/Blog Toque Di Letra)

Ouro no Mundial de 2007, no Rio de Janeiro, e nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, em 2011, e de Toronto, no ano passado, Luciano Corrêa não esconde o sonho de pôr no peito uma medalha olímpica. O discurso, porém, ganha tom ponderado. "Nós ainda temos as últimas etapas para confirmar essa participação", explicou o judoca, que tem o paulista Rafael Buzacarini como principal concorrente pela vaga.

'Judô brasileiro é potência', diz

À espera da lista de convocados, ele tem uma certeza. "O judô brasileiro está entre as cinco potências do mundo hoje, e quem for representar o Brasil vai representar bem, com chance de medalha". O otimismo também tem lastro histórico. O judô é o esporte que mais deu medalhas ao Brasil: 19 na soma, desde 1972. "Jogos Olímpicos em casa é uma oportunidade única", finalizou. Após os 200 metros com a tocha em Itabirito, a corrida, agora, é por vaga e medalha no Rio em agosto.


*Com colaboração de Paulo Souza


Ex-avante do Atlético e Siderúrgica, filho de Telê Santana e
judoca bicampeão pan-americano participaram de celebração

Vinícius Dias*

Terra natal do ex-técnico Telê Santana, Itabirito recebeu a tocha olímpica nesta sexta-feira. Ao longo do trajeto de cerca de seis quilômetros, que contemplou oito bairros da cidade, os olhares curiosos do público que se aglomerou nas ruas desde o início da tarde se misturaram à emoção dos condutores e familiares. Itabirito foi um dos últimos destinos - Inhotim e Contagem serão os seguintes - da chama antes da passagem pela capital Belo Horizonte, marcada para sábado.

Ex-ponta Silvestre abriu revezamento
(Créditos: Paulo Souza/Arquivo Pessoal)

O revezamento teve início em frente ao em frente ao alto-forno, no bairro Esperança, e foi encerrado no Terminal Rodoviário. Ao longo do percurso, aconteceram duas pausas. A primeira, no Jardim São Cristóvão, local em que foi instalado monumento em alusão à passagem do símbolo olímpico pela cidade. Depois, no Complexo Turístico da Estação, onde discursou o prefeito Alex Salvador e foram realizadas apresentações de um grupo de ginástica artística e do Coral Canarinhos.

Emoção de dois campeões

A chama, durante quase duas horas de revezamento, passou pelas mãos de 30 condutores, com destaque para o encontro de gerações ligadas ao esporte no percurso. Ex-ponta-direita do Atlético e campeão estadual em 1964 pelo Siderúrgica, Silvestre Martins se emocionou. "Foi um prazer e uma honra representar a minha cidade", festejou. Emoção compartilhada com Luciano Corrêa, judoca bicampeão pan-americano, surpresa da festa em Itabirito. "É um momento de mostrar para a população a importância dos Jogos Olímpicos", comentou.


Já na segunda metade, o técnico e ex-jogador Renê Santana, herdeiro de Telê Santana, participou do revezamento. "Para mim, foi motivo de honra poder representar alguém que fez muito pelo esporte, como Telê, em sua querida Itabirito", pontuou. O traçado, contemplando a casa em que o pai viveu nos primeiros anos, marcou um retorno ao passado. "Momento de emoção imprevisível. Fiz esse percurso várias vezes, repetidamente, com meu pai em vida", comentou.

Nos passos do mestre Telê

Das mãos de Renê, recebeu o fogo olímpico o árbitro Gilberto Alves, que coordena há 11 anos um projeto social de formação esportiva no bairro Praia, onde mora. "A tocha olímpica representa a chama da união entre os povos por meio do esporte, algo que também procuro ensinar aos meus alunos durante os treinos de futebol. Conduzi-la em Itabirito, uma cidade que me acolheu logo aos dois anos, foi uma oportunidade muito especial para mim", afirmou.

Cerimônia oficial no Complexo da Estação
(Créditos: Vinícius Dias/Blog Toque Di Letra)

Enquanto a tocha conhecia as principais ruas de Itabirito, o Alto do Cristo foi cenário da gravação de trechos de um dos vídeos oficiais desta edição dos Jogos Rio 2016. As imagens registraram a performance de um ciclista local na pista de downhill. Cartão-postal da cidade por sua bela paisagem natural, o local é, tradicionalmente, palco de alguns dos principais eventos da modalidade na região.

*Com colaboração de Paulo Souza

A paciência necessária à ousadia

Vinícius Dias

Passados 16 dias da eliminação na semifinal do Campeonato Mineiro e da queda de Deivid, o Cruzeiro definiu o nome de seu novo treinador: Paulo Bento. Com trajetória marcada por dois trabalhos longos em 11 anos, o lusitano se torna, paradoxalmente, personagem da quarta troca - terceira pós-demissão - no comando celeste em 11 meses. Entre expectativas e incógnitas, o acerto marca o retorno ao dia a dia de um clube desde que deixou o Sporting, em novembro de 2009.


Adepto do 4-4-2 - formato losango - nos tempos de José Alvalade, Paulo Bento comandou um processo de revolução na seleção portuguesa entre 2010 e 2014. Figurões como Ricardo Carvalho, Tiago e Ricardo Quaresma fora dos planos, variação entre 4-3-3 e 4-4-2, compactação, trabalho de bola, agilidade na transição. Em 2012, boa participação na Eurocopa. Em 2014, uma eliminação inesperada na fase de grupos da Copa do Mundo e rescisão do contrato três meses depois.

Paulo Bento: o novo treinador celeste
(Créditos: Francisco Paraíso/FPF/Divulgação)

Em 20 meses, desde então, propostas rejeitadas e dedicação a cursos na Europa até se tornar a ousada aposta celeste. Se Deivid era a aposta na continuidade, conquanto o discurso do ex-comandante não fizesse eco, a vinda de Paulo Bento é a aposta na novidade - inclusive na relação com o elenco, avalista da efetivação do antecessor. "Além de ser boa pessoa, é muito duro", indicou ao Blog um português que conviveu por bom tempo com o novo comandante celeste.

Aposta ousada, Paulo Bento tem repertório e currículo de peso.
Mas precisará da paciência que faltou ao Cruzeiro em 11 meses.

Título com a marca de Givanildo

Vinícius Dias

Robinho se desloca, recebe e encontra Pratto. O argentino para em João Ricardo, mas vê Clayton abrir o placar no rebote aos 13' da etapa final. A movimentação de Robinho, geralmente prendendo dois americanos, foi o antídoto de Aguirre para minimizar a inferioridade numérica e furar a zaga do rival. Givanildo, em desvantagem, acionou Tiago Luis e Borges. Maior presença ofensiva, que deu resultado aos 38', com pivô do centroavante, gol de Danilo e título alviverde no Mineirão.


Diante de quase 50 mil torcedores e quebrando o jejum de 15 anos, a conquista de um América implacável como mandante - em sete duelos na Arena Independência, registrou seis vitórias e um empate - e invicto nos confrontos diante dos dois principais favoritos, com direito a inversão de vantagem duas vezes. Uma vitória e dois empates contra o Cruzeiro, líder da primeira fase e, posteriormente, eliminado na semifinal. Retrospecto idêntico diante do Atlético, vítima na decisão.

Givanildo: o maior da história americana
(Créditos: Carlos Cruz/América FC/Divulgação)

Passada a merecida festa, o difícil Campeonato Brasileiro bate à porta e a primeira impressão é de que o elenco do Coelho precisa de reforços para, enfim, sonhar com voos mais altos. Mas há uma base testada e, mais do que isso, uma filosofia muito bem definida pelo técnico Givanildo Oliveira. Compactação defensiva, eficiência no trabalho com a bola - aliada à menor necessidade de tê-la - e alto aproveitamento nas finalizações explicam um título tido como improvável em janeiro.

Coletivamente, o campeão América foi o melhor time do estadual.
Com a marca de Givanildo, o maior treinador da história do clube.


Terra natal de Telê Santana será 23ª cidade de Minas Gerais a
receber a tocha olímpica; percurso terá 6 km por oito bairros

Vinícius Dias

Itabirito, 23ª cidade de Minas Gerais a receber a tocha olímpica, já ganhou contornos de festa. À espera do revezamento, vários pontos do trajeto oficial, como o Complexo Turístico da Estação e as praças 1º de maio e da Bandeira, foram decorados com painéis alusivos aos Jogos Olímpicos. Na próxima sexta-feira, dia 13 de maio, a chama passará pelas mãos de 30 condutores, entre atletas, ex-atletas e moradores da cidade, ao longo de cerca de seis quilômetros.

Painel com mascote na Praça 1º de maio
(Créditos: Vinícius Dias/Blog Toque Di Letra)

O traçado contemplará pontos marcantes da infância e da adolescência de Telê Santana, filho ilustre da cidade, com destaque para a casa em que o ex-técnico foi criado pelos tios Maria e Eurico Silva, na avenida principal. A tocha também passará em frente à sede náutica do Itabirense Esporte Clube, paixão da família de Santana em Itabirito, e ao estádio Dr. Alberto Woods Soares, do União Sport Club, que o 'Fio de Esperança' defendeu quando tinha 16 anos.

Decoração especial na Praça da Bandeira
(Créditos: Vinícius Dias/Blog Toque Di Letra)

A chama, que circulará por Uberaba, Araxá, Serra do Salitre, Patrocínio e Patos de Minas neste domingo, chegará a Itabirito na tarde da próxima sexta-feira, após a passagem por Ouro Preto. O revezamento pelas ruas itabiritenses deve ter início antes das 14h.

Em espanhol, o recado aos brasileiros

Vinícius Dias

No Morumbi, São Paulo e Atlético farão o grande jogo da próxima quarta-feira. Distintos em campo, os remanescentes brasileiros na Libertadores e rivais por vaga na semifinal têm na área técnica a grande semelhança: são os dois clubes da elite dirigidos por estrangeiros. O uruguaio Aguirre foi semifinalista com o Inter em 2015 - melhor campanha recente de time do país em torneio continental. Em busca do tri, Bauza tenta engrossar o rol de argentinos bem sucedidos fora do país.


A lista tem Simeone, finalista da Liga dos Campeões pela segunda vez em três anos com o Atlético de Madrid; Pochettino, a um ponto de garantir a melhor participação do Tottenham no inglês desde 1989/1990; e Eduardo Berizzo, comandante do Celta de Vigo, sensação espanhola. Voltando no tempo, destaque ainda para a inédita conquista chilena na Copa América, com Jorge Sampaoli, e para a histórica campanha colombiana na Copa de 2014, sob a batuta de José Pékerman.

Atlético volta às quartas após três anos
(Créditos: Bruno Cantini/Flickr/Atlético-MG)

Também na Europa, o chileno Pellegrini conduziu o Manchester City a uma inédita semifinal de Liga dos Campeões - feito semelhante ao alcançado à frente do Villareal na temporada 2005/2006. De novo, destaque negativo para a ausência de brasileiros entre os técnicos em alta no Velho Mundo. Idioma? Maior poderio financeiro e/ou resistência do mercado nacional? O histórico frágil de nomes como Luxemburgo e Felipão aponta um caminho alternativo: a perda de espaço na elite mundial.

Perda do porto seguro

Em casa, o habitual porto seguro da Série A vem abrindo o leque. O São Paulo investiu em dois treinadores estrangeiros de forma consecutiva e o uruguaio Aguirre emplacou dois trabalhos em dez meses, por exemplo. O mercado ainda oferece o futebol vistoso de Marcelo Bielsa e Sampaoli, a ofensividade do jovem Cocca e a eficiência defensiva de Gerardo Pelusso. Basta saber aonde se quer chegar e, mais do que ter condições, não ter receio em fugir do óbvio.

No futebol, não há um único caminho nem fracasso definitivo.
Mas o sucesso de Aguirre, Simeone, Bauza e outros é recado.


Autor de tese sobre violência no futebol, Felipe Lopes analisa o
cenário nacional, exalta modelo alemão e reprova torcida única

Vinícius Dias

Doutor em Psicologia pela USP e docente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da Universidade de Sorocaba - Uniso, Felipe Tavares Paes Lopes tem se dedicado nos últimos anos a um assunto tão polêmico quanto revelador: a violência no futebol. "Preciso destacar que o futebol não é uma ilha na sociedade", pondera. Entusiasta do modelo de mediação de conflitos aplicado na Alemanha, o professor é pouco otimista em relação ao contexto nacional. "As perspectivas de superação em curto prazo são pequenas", afirma ao Blog Toque Di Letra.

Felipe Lopes analisa violência no futebol
(Créditos: Vinícius Dias/Blog Toque Di Letra)

Na avaliação dele, a busca por soluções passa pela universidade e, ainda, pela mudança de postura da mídia. "Nada disso, todavia, dará resultados efetivos sem o estabelecimento de um amplo diálogo com os torcedores", reconhece. Crítico da elitização do futebol brasileiro, Felipe Lopes também questiona a tendência de ruptura entre clubes e as torcidas organizadas. "Se destroem os canais de comunicação com uma parcela importante dos torcedores e da juventude brasileira", avalia, defendendo o diálogo, desde que de forma democrática e transparente.

Nos últimos anos, o Brasil tem figurado entre os países em que há mais violência no contexto do futebol. Na sua avaliação, há alguma forma de atenuar esse quadro em curto prazo?

Primeiramente, é preciso destacar que o futebol não é uma ilha na sociedade. Por conseguinte, em um país onde a violência urbana é endêmica, como o Brasil, as perspectivas de superação em curto prazo são pequenas. Isso não significa, no entanto, que nada possa ser feito. Punir individualmente os torcedores que se engajam em práticas criminosas é imperativo. Também é preciso melhorar o tratamento dado ao torcedor, que não pode continuar sendo tratado como gado, como, infelizmente, ocorre muitas vezes. Assim, é preciso melhor as condições de segurança, conforto e salubridade dos estádios do país, que, com algumas exceções, continuam sendo muito ruins. Uma polícia especializada, que respeite os direitos democráticos dos torcedores, também é fundamental.

Deve-se padronizar seus procedimentos, para que os torcedores visitantes não se sintam injustiçados e saibam, por exemplo, o que podem e o que não podem levar aos estádios. Além disso, deve-se acabar com proibições arbitrárias, autoritárias e ineficazes, que apenas contribuem para eliminar a festa nas arquibancadas. A CBF e as federações estaduais também possuem responsabilidade no tema. É preciso um envolvimento concreto dessas instituições com a transformação dos conflitos no futebol. Assim, elas devem apoiar financeiramente campanhas educativas e programas e projetos mais amplos de prevenção, como ocorre na Alemanha. Os clubes, por sua vez, devem fortalecer seus laços com a comunidade. Também é preciso que eles estabeleçam um responsável por fazer a interlocução com os outros atores envolvidos na produção do espetáculo futebolístico, como polícia, clube visitante, Ministério Público, torcida adversária, etc.

Este deve ser o primeiro a responder em caso de problema, como ocorre na Bélgica. Já os meios de comunicação devem desdramatizar a cobertura dos jogos e não esperar a violência eclodir para discutir possíveis soluções. A universidade deve produzir estudos rigorosos, que possam subsidiar diagnósticos precisos da situação. Aqui, é preciso destacar que o primeiro passo dado por todos os países que investiram seriamente em prevenção foi justamente buscar compreender o problema. Nada disso, todavia, dará resultados efetivos sem o estabelecimento de um amplo diálogo com os torcedores, que devem ser incluídos no processo de construção de políticas públicas para os eventos de futebol. O diálogo com o torcedor deve vir acompanhado de ações sociopedagógicas, que visem ampliar a tolerância nas arquibancadas e educá-lo para lidar com questões como o racismo, a homofobia e o sexismo.

Entre as medidas adotadas no país recentemente estão jogos com torcida única/portões fechados e a proibição da venda de cerveja. Do ponto de vista do combate e prevenção da violência, como você avalia a eficácia dessas alternativas?

Medidas como torcida única e portões fechados são ineficazes, pois a maior parte dos conflitos ocorre fora dos estádios. Na Argentina, por exemplo, jogos com torcida única passaram a ser regra em 2013 e, desde então, já aconteceram 36 mortes, conforme foi amplamente divulgado pela imprensa. Para piorar, esse tipo de medida é injusto com a maioria dos torcedores, que é pacifica e tem o direito de acompanhar seu clube do coração. Além disso, a mensagem veiculada é de que o futebol é um espaço de intolerância, onde não é possível a convivência entre torcedores adversários, o que é muito negativo, sobretudo para as novas gerações de torcedores. Em relação à proibição da venda de cerveja, esta é uma questão polêmica, não havendo consenso entre os pesquisadores.

Eu, particularmente, sou contra essa medida. Primeiro, porque ela é pouco eficaz, dado que muitos torcedores ficam bebendo fora do estádio. Segundo, porque, para piorar, esses torcedores deixam para entrar no estádio praticamente na hora de começar o jogo, o que acaba criando problemas de circulação. Terceiro, porque, para alguns grupos, o consumo de cerveja é um elemento cultural importante, que faz parte de uma tradição popular de torcer. Quarto, porque, ainda que o consumo de cerveja possa, em determinadas ocasiões, acirrar os ânimos e, consequentemente, alimentar a violência dita espontânea, sua proibição não ataca, de modo algum, o problema principal: os confrontos coletivos e, às vezes, previamente planejados entre torcidas rivais.

Conflitos que, repito, acontecem quase sempre fora dos estádios. Na Inglaterra, por exemplo, constatou-se que parte dos hooligans não bebe antes dos confrontos justamente para brigar melhor. A relação entre bebida e hooliganismo é, portanto, indireta. Tanto o engajamento na briga quanto no consumo excessivo de bebidas alcoólicas são formas de demonstrar virilidade. De mostrar que se tem aguante, como se diz nos países hispano-americanos. Mas, reforço, há torcedores violentos que não bebem e torcedores pacíficos que bebem muito.

Em palestras, você costuma elogiar o exemplo alemão, que aposta, sobretudo, em educação e mediação de conflitos. Acredita que um projeto nesses moldes teria êxito no Brasil, um país com história e características muito distintas?

Sim, acredito. Evidentemente que são realidades distintas, e qualquer projeto de prevenção deve considerar as singularidades do contexto em que ele será implementado. Feita essa ressalva, considero que as diretrizes principais dos Projetos Torcedores alemães podem e devem servir de norte para o Brasil. Desde o início dos anos 1980, a Alemanha investe, com muito sucesso, em mediação de conflito e em medidas de natureza sociopedagógica, reconhecendo o torcedor como um ator legítimo dentro do universo do futebol.

Esse reconhecimento é fundamental para que possamos transformar, de modo criativo, democrático e pacífico, os conflitos no futebol brasileiro. Afinal, a inclusão dos torcedores no processo de elaboração de normas faz com que eles deixem de vivenciá-las como autoritárias e repressivas e, portanto, como um convite à transgressão. Ao mesmo tempo, faculta ao poder público exigir deles total respeito às normas. Também destaco que, seguindo as reflexões do sociólogo Pablo Alabarces, a solução para o problema da violência no futebol está principalmente em produzir uma mudança cultural ampla, recuperando o valor festivo do futebol e estimulando a tolerância nas arquibancadas, o que, evidentemente, exige diálogo e ações educativas.

Uma pesquisa divulgada em 2015 pelo Instituto Stochos apontou a violência/falta de segurança como a principal causa (43%) da não ida do torcedor brasileiro aos estádios. A maior parte dos ouvidos (84%) cita as organizadas como responsáveis pela violência. Como você interpreta esses números?

Considero que esses números devem, obviamente, ser lidos de forma crítica. Em primeiro lugar, se o mesmo instituto inverter a pergunta e indagar por que as pessoas vão aos estádios, muito provavelmente teremos um número significativo de respostas que afirmam que a principal causa da ida aos estádios é a sua atmosfera única, produzida pela festa nas arquibancadas. Festa que, como bem sabemos, é protagonizada pelas torcidas organizadas.

Em segundo lugar, acredito que esses números são, em grande medida, o resultado de discursos simplistas, maniqueístas e preconceituosos, que representam as torcidas organizadas como instituições criminosas às quais são atribuídas todas e quaisquer mazelas do futebol. Embora haja o engajamento concreto de torcedores organizados em práticas violentas, esses torcedores são uma minoria dentro das torcidas organizadas. Além do mais, não podemos perder de vista que essas torcidas são fonte de lazer, socialização e identidade para milhões de jovens e que outros atores também são responsáveis pelos conflitos no futebol, como a polícia.

Em abril, o Sport teve uma vitória judicial contra a Torcida Jovem, que acabou impedida de frequentar seus jogos. No mesmo mês, o Atlético/PR vetou o acesso de materiais alusivos a organizadas em seu estádio. A ruptura entre clubes e organizadas representa uma tendência? Quais as prováveis consequências?

Parece-me que sim, infelizmente. A principal consequência disso é que se destroem os canais de comunicação com uma parcela importante dos torcedores e da juventude brasileira. Desde que feito de forma pública, democrática e transparente, o diálogo com as torcidas organizadas deve ser estimulado, não evitado. Por essa razão, é importante reforçar que diálogo não deve ser confundido, de modo algum, com negociação clandestina, que é condenável.

Avançando para a perspectiva teórica, em um de seus artigos você aborda a dimensão ideológica e de resistência dos combates entre Ultra Sur - torcida direitista do Real Madrid - e Herri Norte Taldea - esquerdista do Athletic Bilbao -, na Espanha, por exemplo. Há algo semelhante no futebol brasileiro?

Na Europa, parte dos grupos ultras está estreitamente vinculada a posições político-ideológicas, tanto de direita quanto de esquerda. No Brasil, esta associação não é tão evidente, o que não quer dizer que as nossas torcidas organizadas não sejam politizadas.

Ao contrário, as recentes manifestações contra o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Fernando Capez, citado em esquema de fraude (o deputado afirma que é vítima) em licitações de merenda escolar, bem como os diversos protestos em todo o país contra a elitização do futebol, contra as transmissões às 22h e por mais transparência na CBF e federações estaduais, demonstram que existe espaço para o exercício da cidadania dentro das torcidas organizadas e de que elas podem, efetivamente, se transformar em um desafio real aos grupos dominantes, sobretudo se houver união entre elas.

Por isso mesmo, destaco a importância da fundação, em 2014, da Associação Nacional das Torcidas Organizadas do Brasil, a Anatorg.

No mesmo trabalho, você argumenta que a violência produzida no contexto de consumo do futebol profissional não deve ser tratada como uma manifestação irracional. Neste sentido, o que explica ou caracteriza esses atos?

Antes de tudo, é preciso observar que o tema é complexo e não existe um consenso na literatura científica. A compreensão dos atos de violência no futebol depende do referencial teórico assumido. De qualquer modo, apresento algumas explicações que me parecem adequadas. Explicações que não devem ser vistas como as causas determinantes da violência no futebol, mas como fatores que podem estimulá-la, facilitá-la, moldá-la. Em primeiro lugar, a violência é cotidiana, ou seja, ela está presente no cotidiano das cidades brasileiras, e isso se reflete no futebol. Em segundo lugar, ações truculentas da polícia tendem a fazer com que os torcedores, mesmo aqueles que costumam ser pacíficos e ordeiros, reajam negativamente, de modo agressivo.

Em terceiro lugar, a participação em embates físicos pode produzir, em certas circunstâncias, adrenalina e excitações agradáveis. Em quarto lugar, essa participação é fonte de visibilidade dentro dos grupos mais radicais de torcedores. Estes grupos tendem a ser guiados por um princípio de masculinidade agressiva, que valoriza a capacidade de aguentar a dor e as adversidades. Neste contexto, tal participação é uma forma privilegiada de demonstração dessa capacidade e, consequentemente, de obter reconhecimento dentro desses grupos. Reconhecimento que, por sua vez, ajuda a galgar na sua estrutura de poder.

Em quinto lugar, a violência é legitima dentro do universo do futebol, ou seja, ela conta com consensos, como explica Pablo Alabarces. Tanto é que se pode observar manifestações de ódio e intolerância em todos os setores dos estádios, sem distinção. Muitos torcedores que dizem ser contra a violência aplaudem, por exemplo, quando a polícia age de forma violenta contra a torcida rival. Em sexto lugar, a violência é frequentemente estimulada pelos meios de comunicação, que costumam adotar uma retórica que dramatiza o futebol, convertendo-o em uma questão de vida ou morte. Em sétimo e último lugar, ela é, obviamente, alimentada pela impunidade.

Outro ponto levantado é o fato de a violência no futebol brasileiro levar à amplificação da vigilância e, por consequência, à destruição do que você classifica como 'cultura popular do torcer'. Como isso acontece? Quais são as implicações?

A violência é o argumento habitualmente utilizado pelas autoridades públicas e do futebol para ampliar os dispositivos de vigilância nos estádios e a repressão nas arquibancadas. Em São Paulo, por exemplo, esse foi o argumento para proibir a entrada de bandeiras com mastro. Esse também tem sido o argumento para eliminar os setores populares, como as gerais, e implementar um modelo burguês de assistência do espetáculo futebolístico, que pretende transformá-lo em um espaço para se olhar e, claro, consumir.

As principais implicações disso são que o futebol brasileiro está, cada vez mais, elitizado e pasteurizado. Mas, felizmente, como diria Michel Foucault, onde há poder, há resistência. E esta está presente não apenas nas faixas e gritos de protesto das torcidas, mas no movimento incessante dos corpos de todos aqueles que, apesar de tudo, mantém viva uma cultura popular de torcer.